Por Rogerio Ruschel, de São Paulo, Brasil (*)
Respeito
o talento de quem transforma seu trabalho em uma arte e suas mazelas em
conquistas triunfantes – e apesar disso continua criativo e humilde. O catalão
Ferran Adrià, gastrônomo, é um dos mais talentosos profissionais de nossa época
e o melhor exemplo de vencedor. Nasceu num bairro pobre de um vilarejo pobre perto de Barcelona, entre
fábricas têxteis decadentes, estações ferroviárias de arrabalde e mercados livres,
filho de um operário da construção civil
e motorista e de uma cabeleireira. Na foto abaixo Adriá
recebe seu titulo de Honoris Causa na
Universidade de Barcelona.
Nunca pisou numa faculdade – só muitos anos depois, em quatro delas, para
receber títulos de doutor honoráris causa,
em vários lugares do mundo – uma delas a Harvard, onde em 2010 fez o primeiro
curso de gastronomia de alto perfil acadêmico. Tentou mas desistiu de ser
jogador e futebol e entrou “no ramo” culinário aos 17 anos lavando pratos em um hotel para pagar uma viagem para Ibiza onde foi trabalhar como
aprendiz de cozinheiro. Aos 25 anos já era o chef do elBulli e jurou nunca copiar um prato
de outro chef. Na foto abaixo,
Adriá cola mais uma reportagem de jornal sobre ele num painel de parede: neste
caso, do jornal The New York Times.
Então, se não podia copiar, teve que criar suas próprias receitas - e assim
foi criado o mito. Aliás desde essa data até o fechamento do restaurante em 2011, foram criadas no elBulli 1.846 pratos; esta
cifra cabalística esconde outro segredo: 1846 é o ano de nascimento de um dos
mitos da cozinha de Adriá, Auguste Escoffier. Veja a seguir fotos de algumas de
suas criações e com seus sortudos assistentes.
Apelidado de “o inventor da cozinha da
desconstrução”, Adrià é um artista que privilegia o visual: quando esteve no
Brasil cozinhando para um grupo de privilegiados, em 2005, o menu surpresa
tinha caipirinha que se mastiga, pão de queijo gelado, bolacha que formiga a
língua e prato servido em balão inflado – além dos famosos ovos que explodem na
boca.
Entre os conhecidos pratos do artista estão
Olivas Esféricas”, uma massa de azeitona em conserva de alho, alecrim e casca
de laranja, gelatinosa por fora e líquida por dentro, que explode na boca;
“Leite Elétrico” um bolacha de leite seca com pimenta de Schezuan, sobre a qual
não se pode nem comer, nem beber nada durante um minuto – e depois disso ela
faz formigar a língua e as bochechas, como se fossem leves choques elétricos.
Já a
“Trufa-nitro Coulant de Pistache” é uma grande bola de gude verde, que
revela um abacate no ataque e um pistache no final e o “Pão de Queijo” é
servido espumoso e gelado numa caixa de isopor e sobre esta massa se espalha, a
gosto, framboesa fresca, nozes e cristais de frutas – e se come com colher,
como sorvete.
O resultado de criar suas receitas é que foi eleito o melhor chef do mundo por cinco anos seguidos! E
criando pratos em um restaurante (o elBulli em Roses, na Costa Brava, região de
Barcelona) fora dos “grandes centros”, que se tornou o mais premiado e o mais
importante centro criativo de culinária do planeta.
E acredite, meu caro leitor: no auge da fama Ferran Adriá fechou o
restaurante elBulli e agora, com o formato de uma Fundação sem fins lucrativos,
trabalha para transformá-lo em um centro de exposição, laboratório e
capacitação de pessoas, um projeto com 5 mil metros quadrados com arquitetura
de outro catalão “maluco”, Enric Ruiz-Geli (foto abaixo, Adriá com a maquete).
E como talentosos tem alta tendência também à loucura-que-renova-o-mundo,
Adriá está criando a BulliPedia, uma enciclopédia de alimentos, gastronomia e
nutrição na internet, seguindo o modelo da Wikipédia. Vai concentrar todo o
conhecimento de Adriá sobre culinária. Sobre
o perfil da BulliPedia, Adrià certa vez disse: “Se você busca aspargos no
Google encontra 2,1 milhões de resultados. E o problema é que a Wikipedia tem
pouca informação sobre gastronomia”, disse. O objetivo de sua wiki, segundo
ele, “não é ter milhões de verbetes”, mas ser uma ferramenta para que as
pessoas possam “compreender o significado de cozinha” e “compartilhar
conhecimento e informação”. Veja abaixo anotações de Adriá sobre a BulliPedia.
“Não trabalho nem por ego, nem por dinheiro”,
diz frequentemente Adrià. Sim, respeito profundamente o talento de um
lavador de pratos que é convidado para expor receitas como arte nos melhores
museus do mundo, cria um centro de pesquisa sobre alimentos no MIT (foto
abaixo), o mais sofisticado centro de pesquisas em tecnologia do mundo e ajuda
jovens lavadores de pratos a desenvolver carreira.
Respeito porque sei que pessoas que de fato tem talento se recusam a copiar
e não tem medo de ser copiado. Na foto, Adrián cola na parede reportagem de 12
páginas do New York Times sobre seu trabalho e sobre a culinária moderna.
Gostou do assunto? Então veja a reportagem especial sobre Ferran Adrià, feita
por talentosos jornalistas e fotógrafos do jornal espanhol El Pais em http://elpais.com/especiales/2014/ferran-adria/
(*) Rogerio Ruschel (
rruschel@uol.com.br ) mora e trabalha em São Paulo, Brasil, é jornalista, enófilo e respeita o talento das pessoas. É editor do blog In Vino Viajas de cultura do vinho e turismo de qualidade com leitores em 87 países - Acesse http://invinoviajas.blogspot.com.br/
"La comunicación es nuestro principal objetivo y sin
vosotros no tendría sentido, gracias"
IN VINO VERITAS, LONGAE VITAE!))
Muy buena nota!!
ResponderEliminarMuchas gracias, Pablo Rodriguez - Ferrán Adrià es un bello personage!
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