Por Rogerio Ruschel, de São Paulo, Brasil (*)
Desde
o fim dos anos 80 argentinos e ingleses vivem em permanente conflito político e
institucional por causa da disputa pela ilhas Falklands ou Malvinas. Pela
importância estratégica, pelo significado no “orgulho nacional” e pelo
potencial econômico, tudo que diz respeito às ilhas é muito tenso e nervoso. Ou
quase tudo, porque o vinho pode quebrar este “gelinho”: proprietários de vinhedos
da Argentina estão fazendo parceria com
viticultores ingleses na produção de um
vinho Malbec vintage transfronteiriço único no mundo –
foto acima. É a politica do “faça vinho, não faça guerra.”
A primeira ideia diplomática de cooperação
foi o envio de 2 toneladas de uva Malbec produzida em um vinhedo de Mendoza
pertencentes ao Gaucho Restaurant Group, a 1.100 metros acima
do nível do mar, para um produtor de vinho branco espumante na Inglaterra. As
uvas foram escolhidas por compradores ingleses com o compromisso de que
chegassem na Inglaterra em até cinco dias, para manter as uvas
frescas.
As uvas viajaram 11.200 quilometros até a Chapel Down
(veja abaixo), uma adega em Tenterden, no Condado de Kent, premiado fabricante
de vinhos e cervejas, que produziu 1.300 garrafas do primeiro vinho
transfronteiriço do mundo, criado a partir de uvas argentinas exportadas para o
Reino Unido. O vinho, com o nome de Chapel Down Malbec foi classificado por um
analista do site Anorak Wine, como “Midweight
and expressive, this is a joyful, pretty wine: Beaujolais meets the
Languedoc!"
O milagre diplomático estava funcionando, mas aconteceu um problema. A
primeira safra do vinho foi lançada em Londres como parte do Dia Mundial do
Malbec em Abril de 2012, ficou disponível para degustação gratuita na Chapel
Down e vendido em 70 restaurantes da Inglaterra, incluindo os argentinos
Gaucho. Mas por causa do sistema de rotulagem europeu, o produto teve que ser
denominado "fruit-derived
alcoholic beverage from produce sourced outside the EU” e não pode ser rotulado e vendido como vinho europeu.
O diretor da Chapel
Down protestou: “Isso é ridículo. Aqui na Inglaterra nós podemos fabricar uma
cerveja com cevada norte-americana e uma vodka com grãos russos, mas não
podemos fabricar vinho com uvas argentinas”. Os europeus avaliam a mudança do sistema de
rotulagem, e a Wines of Argentina espera que no futuro este vinho transcontinental seja
aprovado pelo Wines Standard Board.
E o que faziam os moradores das Ilhas
Falklands/Malvinas enquanto isso? Tosquiavam ovelhas, plantavam produtos orgânicos,
recebiam turistas de cruzeiros internacionais e bebiam vinho – muito vinho!
Segundo pesquisa de uma universidade dos Estados Unidos, os 2.967 moradores das
Ilhas são um dos tres maiores bebedores de vinho do mundo, com uma média anual
de consumo per capita de 42 litros, à frente da Espanha (33 litros), Argentina
(27) e do próprio Reino Unido (19). Só perdem para os 66 litros/ano consumidos
no Vaticano e 55 litros consumidos pelos moradores da Ilhas Norkolk. Aliás, se o Vaticano consome tanto vinho,
o Papa é argentino e a parceria é um bom sinal de amizade, porque o Vaticano não
apoia ou encomenda mais vinhos transfronteiriços para acabar com o ódio entre
os dois países? Fica a sugestão.
Relembrando o tamanho do ódio: a Guerra de
las Malvinas ou Falklands War foi um conflito armado entre a Argentina e o
Reino Unido nas Ilhas Malvinas Falkland, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul nos
meses de abril a junho de 1982 pela soberania destes territórios. O saldo da
guerra foi a recuperação do arquipélago pelo Reino Unido e a morte de 649
soldados argentinos, 255 britânicos e 3 civis. Mais do que isso, a derrota
acelerou a queda da Junta Militar e a restauração da democracia na Argentina e
permitiu que o governo conservador de Margaret Thatcher vencesse as eleições de
1983.
Proponho um brinde com um bom vinho -
transcontinental ou local - ao fim do ódio e à boa vontade entre pessoas e nações!
E por falar em Malbec, veja esta nota publicada no jornal El Clarín,
em 14/03/2014: “Por primera vez, un vino argentino fue elegido el mejor tinto
del mundo en Francia. Es el Bianchi Reserva Malbec que recibió el Gran Premio
Trophéé al “Mejor Vino Tinto Seco del Mundo”, la máxima categoría del Vinalies
Internationales 2014 que otorga la Unión de Enólogos de Francia. En París, este
vino compitió entre más de 3.500 vinos de 41 países y logró promediar el mejor
puntaje otorgado por los 150 miembros del jurado internacional. Los entendidos
aseguran que el Malbec es una categoría líder y está en plena proyección
internacional. Como disse Magdalena Pesce, gerenta de marketing de Wines of
Argentina. “Es muy meritorio que un vino argentino haya obtenido este galardón,
sobre todo teniendo en cuenta que compitió también con Francia, el país de
donde originalmente proviene el Malbec”.
Post
publicado originalmente em In Vino Viajas em outubro de 2013 – acesse http://invinoviajas.blogspot.com.br/2013/10/a-incrivel-historia-do-vinho-malbec-que.html
*Rogerio
Ruschel
(rruschel@uol.com.br) mora e trabalha em São Paulo onde é jornalista e enófilo; Ruschel prefere fazer o amor à guerra.
IN VINO VERITAS, LONGAE VITAE!))
"La comunicación es nuestro principal objetivo y sin
vosotros no tendría sentido, gracias"
IN VINO VERITAS, LONGAE VITAE!))
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