Por Rogerio Ruschel (*)
Não é exatamente uma atração turística, mas vai funcionar como tal: é uma pesquisa técnica, com perfil histório. Uma equipe da Universidade de Catania, na Sicília, está fazendo uma pesquisa muito interessante: o plantio de uma pequena vinha utilizando uvas, ferramentas e técnicas usadas pelos romanos há cerca de 2.000 anos, como tiras de junco e lascas de madeira de arbustos para ligar as vinhas às estacas, leveduras naturais para fermentação. Nenhuma máquina, pesticida ou fertilizante foi utilizado. Na Sicília, especialmente no Vale do Alcântara e na região do vulcão Etna (abaixo), as uvas eram (e continuam sendo) plantadas sobre um solo escuro, aerado, enriquecido pela lava, que funciona como adubo natural – veja na foto abaixo.
Os
objetivos do projeto são dois: por um lado, verificar a viabilidade das
técnicas romanas e, por outro, verificar se esse conhecimento pode ser
utilizado na viticultura moderna. As primeiras vinhas foram plantadas no começo
deste ano e a equipe espera ter a primeira colheita em 2017. Catania é uma
cidade importante da Sicília, muito rica em patrimônios históricos como o
Palácio Ursini, da foto abaixo, que visitei em 2005.
Para
fundamentar o trabalho os investigadores consultaram o manual de agricultura do
livro Georgics do poeta Virgílio (o autor da Eneida), e informações de um
estudioso do vinho do século I, Lucius Junius Moderatus Columella, que escreveu uma obra em
doze volumes sobre agricultura denominada De Re Rústica e é tido como o melhor
escritor conhecido do Império Romano na área da agricultura.
Nesta obra Columella recomendou o plantio de videiras dois passos de distancia
e disse que eles devem ser amarrados a estacas de madeira sobre a altura de um
homem. Estas técnicas sobreviveram até o século XVII. Na Sicília são
produzidos atualmente belos potes de cerâmica (veja os que fotografei em 2005,
abaixo) com ou cera por dentro e vinificação por fora, uma técnica que seria
empregada pelos romanos para engarrafar o vinho.
A
equipe de historiadores plantou oito variedades locais (sete tintas e uma branca),
incluindo Nerello Mascalese, Visparola, Racinedda e Muscatedda. Na Antiguidade,
o pesquisador romano Columella já se referia a cerca de 50 tipos de uva. A Nerello Mascalese (abaixo) é uma uva aromática que
é parte essencial dos vinhos classificados como Etna Rosso
DOC.
“As fontes romanas são muito precisas e queremos ver o que acontece quando
levamos a cabo as suas instruções ao pé da letra. Muitas dessas ferramentas e
técnicas ainda estavam em uso na Sicília e outras partes da Itália até o fim da
Segunda Guerra Mundial. Depois veio a mecanização e os produtos químicos
modernos, e tudo foi sendo
alterado. Achamos que podemos recuperar as técnicas antigas e que poderiam ser
aplicadas à vinificação moderna." disse Mario Indelicato , um pesquisador
da Universidade de Catania.
Para
conservar o vinho serão usadas ânforas de terracota. Segundo as orientações dos
antigos autores, elas são revestidas por dentro com cera de abelha e enterradas
no chão até o pescoço. São deixadas abertas durante a fermentação, antes de
serem seladas com argila ou resina. Um brinde a isso e à sabedoria dos romanos.
(*)
Rogerio Ruschel mora e trabalha em São Paulo, Brasil, é jornalista, enófilo e gosta muito da Sicilia e de vinhos. Ruschel é editor do blog In Vino Viajas - http://invinoviajas.blogspot.com.br/ - onde este post foi publicado originalmente em fevereiro de 2014.
"La comunicación es nuestro principal objetivo y sin vosotros no tendría sentido, gracias"
IN VINO VERITAS, LONGAE VITAE!))
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